Eu gritei e você gritou mais alto, sua voz ecoou naquele espaço pequeno do carro e invadiu os caracóis dos meus ouvidos me trazendo de volta ao mundo. A cada linha fina de expressão que sua testa franzia eu me afastava de você esquecendo do seu calor e te achando menos bonito. Me senti frustada, você simplesmente não podia entender tudo que passava aqui dentro e penso que talvez fosse esse o motivo da sua irritação. A culpa era minha no fim das contas, eu sabia, eu não cuidei de você como deveria, e o amor é como um bebê.
Senti aquele aperto na palma da mão, coisa que não sei explicar, só sei que dói como uma alfinetada quando estou com raiva, mas era raiva de mim, por isso sempre fico em silêncio, em memória das coisas como eram antes de eu estragar tudo. Seus olhinhos que tanto amo, meio confusos, ficaram serenos, se acalmando naquele remorço pós tempestade que nós dois haviamos começado. Eu simplesmente faria tudo de novo, desde o começo pra te resgatar e matar aquela sombra de orgulho que pairava sobre nossas cabeças, impedindo a vontade doida de abraçar e beijar o outro um milhão de vezes.
Não lembro se foi eu, ou se foi você, mas sei que entrelaçamos os dedos de alguma forma e que nos abraçavamos ainda em silêncio, acho que nos sentimos tolos por perder o pouco tempo que restava com coisas sem sentido. Não é justo pra mim, você me manter tão perto do seu cheiro e do seu calor, me abraçar com esses braços compridos que eu tanto gosto e me apertar com suas mãos enormes. Eu sou frágil e você viciante. Como uma combinação perigosa de nós dois, mas que nos mantia vivos e pulsantes, brigar era assoprar a chama, por isso eu sussurrei pela oitava centena do milhão, que nós nunca faríamos aquilo denovo.