sábado, fevereiro 23, 2013

Semáforo


Eu gritei e você gritou mais alto, sua voz ecoou naquele espaço pequeno do carro e invadiu os caracóis dos meus ouvidos me trazendo de volta ao mundo. A cada linha fina de expressão que sua testa franzia eu me afastava de você esquecendo do seu calor e te achando menos bonito. Me senti frustada, você simplesmente não podia entender tudo que passava aqui dentro e penso que talvez fosse esse o motivo da sua irritação. A culpa era minha no fim das contas, eu sabia, eu não cuidei de você como deveria, e o amor é como um bebê.  

Senti aquele aperto na palma da mão, coisa que não sei explicar, só sei que dói como uma alfinetada quando estou com raiva, mas era raiva de mim, por isso sempre fico em silêncio, em memória das coisas como eram antes de eu estragar tudo. Seus olhinhos que tanto amo, meio confusos, ficaram serenos, se acalmando naquele remorço pós tempestade que nós dois haviamos começado. Eu simplesmente faria tudo de novo, desde o começo pra te resgatar e matar aquela sombra de orgulho que pairava sobre nossas cabeças, impedindo a vontade doida de abraçar e beijar o outro um milhão de vezes.

Não lembro se foi eu, ou se foi você, mas sei que entrelaçamos os dedos de alguma forma e que nos abraçavamos ainda em silêncio, acho que nos sentimos tolos por perder o pouco tempo que restava com coisas sem sentido. Não é justo pra mim, você me manter tão perto do seu cheiro e do seu calor, me abraçar com esses braços compridos que eu tanto gosto e me apertar com suas mãos enormes. Eu sou frágil e você viciante. Como uma combinação perigosa de nós dois, mas que nos mantia vivos e pulsantes, brigar era assoprar a chama, por isso eu sussurrei pela oitava centena do milhão, que nós nunca faríamos aquilo denovo.

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

O cara do suéter azul


O relógio na parede tiquetateava, incansavelmente perturbador  O garoto tamborilava os dedos na mesa bufando, entendiado. Dava pra ver a insatisfação por trás daqueles olhos, eles estavam baixos, mais pra baixo do que normalmente estavam.
   Ele vestia seu longo suéter azul, o cabelo fazia aquela onda nas pontas, ele as odiava, porém eu achava engraçado. Engraçado mesmo, era que eu nunca tinha percebido quem ele era de verdade, não que isso mudasse alguma coisa, mas, sei lá, teria sido bom entender tudo desde o começo.

 O garoto era o tipo de pessoa que se irritava com tudo, era isso que me fazia rir, o sarcasmo sempre na ponta da língua, pronto pra despejar na pessoa mais próxima, aquele humor escarado que de certa forma  dava vida a quem ele era. Exceto por esses dias...

  Esses dias ele estava sem cor, sem humor, só irritado. Desconfiei que fosse as milhões de coisas que aconteciam dentro dele, a incerteza das escolhas que fizera. 

  Ele não entendia nada sobre o amor, sobre a cumplicidade e penso eu, que era esse o motivo de toda aquela pertubação. Ele queria alguém que podasse suas asas e que ao mesmo tempo o deixasse voar por ai.    Mas o amor é complicado, não dá pra aprender com um tutorial no youtube, você tem que dar a cara pra bater. Eu tenho esperanças de que um dia ele entenda, que cresça, que perceba que pra ser feliz a gente tem que fazer alguns sacrifícios.

E que enquanto isso não acontecer, eu estarei aqui.
   

quarta-feira, janeiro 30, 2013

A primeira vez



Ás sete horas da manhã, a garota retirou as botas encharcadas de lama na porta de casa, com muito cuidado para não acordar os pais as largou em algum canto e entrou com as meias encardidas nas pontas dos pés. Agora que o sangue esfriara, todo o corpo reclamava da noite passada.

A água quente do chuveiro caiu como uma manta sobre seu corpo relaxando seus músculos e levando embora consigo toda a sujeira de lama e grama. Apesar de todo o cansaço físico  sua mente ainda estava a milhão, lembrando e relembrando cada momento das últimas 12 horas.

Tinha sido sua primeira vez, não era nada daquilo que as pessoas falavam, era sem sombra de dúvidas algo muito melhor, e tinha sido com a pessoa que ela amava, então ela não poderia se considerar mais sortuda. Havia sido desajeitado no começo, tinha passado semanas a fio planejando cada movimento e no final foi mesmo de qualquer jeito, e foi bom.

Deitada na cama, com os pés latejando, ainda sentia um arrepio na pele, era como se uma vez que tivesse provado nunca mais poderia viver sem, nunca tinha se sentido tão jovem, nunca havia contemplado um nascer de sol tão mágico. Tinha voltado pra casa de carona numa bike, também nunca tinha feito algo tão irresponsável e divertido.

Enfiou a cabeça dentro das cobertas, os primeiros raios de sol já invadiam o quarto, satisfeita involuntariamente um sorriso apareceu no seu rosto: Tinha vivido o melhor dia da sua vida.

terça-feira, janeiro 29, 2013

Estou voltando


A garotinha apoiou os cotovelos na mesa e segurou a cabeça com as mãos, soltando um longo suspiro, Sentia falta das coisas como elas eram, não que não estive bem agora, mas sentia que havia deixado pra trás aquela pessoa brilhante que costumava ser. Não escrevia há alguns meses e aquilo era como ter esquecido parte de quem ela era.

Algumas pessoas simplesmente nascem para algumas coisas, e as palavras eram sua válvula de escape desde que se entendia por gente, desde da primeira história escrita por ela e então, mesmo tão infantil e pequena sabia que não era sua escolha, mas que viveria pra sempre carregando esse "fardo".

"Fardo, sim senhor!" pensou ela ainda apoiada na mesa, pois não era só um fardo como um vicio, pois esses últimos meses tinham sido terríveis sem todo esse blá blá blá de sempre. Ela não escrevia simplesmente porque aquilo lhe dava prazer, mas porque era a única maneira de aliviar a tensão, aliviar a saudade, a dor,  a tristeza... Queria ela ser um pouco normal, beber uma vodca e pronto, mas nem isso ela conseguia.

Quanto tempo ela lutou pra mudar isso de dentro, mas no final acabou voltando pro mesmo lugar, haha pobrezinha.
 Ela estava feliz, podem acreditar, a cara de tédio não deixava transparecer mas a criatividade, assim como a droga, pulsava dentro dela para sair. A garota fazia o que podia, na medida que podia, gostaria de sair jogando tinta nas paredes do lugar de onde trabalhava, nas pessoas... Mas infelizmente como nem todo mundo pode entender a arte, só o que lhe restava era abrir um arquivo velho de wordpad e se entregar sem olhar pra trás.

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Desaprendi

Eu acho que eu nao sei mais escrever, acho que desaprendi. As palavras veêm a minha mente mas é quase impossível passá-las para o papel, assim como eu fazia antes. Acho que bloqueei minha mente por algum tempo e agora nao consigo mais voltar, estou presa dentro daquilo que mais temia: a realidade.

A vida adulta me pegou de surpresa, trabalho, trabalho, responsabilidades, trabalho e aquele espaço em que eu me permitia fugir, o meu refugio, aos poucos foi sumindo e eu acabei me tornando a verdadeira forma fisíca da procrastinaçao.

Não culpo a falta de tempo, culpo a mim mesmo. Dei mais importância ao sono do que à arte e aqui estou eu recolhendo migalhas de memorias e me sujeitando as frases feitas.

Quero voltar á minha epoca de gloria, desejo ter uma novamente uma mente criativa, inspirada, infantil. Cansei dessa rotina, vou retornando aos poucos, recolhendo o que sobrou, mas que ainda vale alguma coisa, essa parte do meu "EU"

sexta-feira, agosto 31, 2012

 E hoje eu acordei pra vida.
  Depois de tanto tempo vagando na mesma estrada deserta, só eu e eu. E não é que a outra parte de mim resolveu me dar uma sacudida e me abrir os olhos pra essa vida linda ao redor?
  Eu não ligo se você não compreende todas essas mil frases metafóricas, porque afinal, ela dizem coisas que passam dentro da minha cabeça, e pra falar a verdade, talvez nem eu mesma possa compreender 100% disso tudo. E eu pensando que nada seria diferente, que tola, tudo mudou!

 É engraçado como a gente consegue mudar de opinião tantas vezes, fazer tantas coisas que eram eternas se tornarem apenas um segundo nessa linha do tempo. Eu sou doida, admito, quero tudo o tempo todo, quero mais de mim, de você, do mundo. Não quero nada, só deitar em algum lugar e esquecer de tudo.
 Me deixe sair por ai, me deixa mudar de ideia, me deixe gostar de coisas esquisitas, me deixe odiar meu cabelo e eu prometo que serei eternamente apaixonada por mim mesma. Hoje eu acordei pra me sentir outra pessoa, ou pelo menos pra deixar sair a minha verdadeira eu.

  Eu não estou desistindo de nada, só estou mudando o caminho, o destino será o mesmo, sempre.
Segure minha mão, sabe como eu sou desastrada, vou acabar tropeçando por ai, o importante é você não me deixar desanimar por causa dos arranhões. Mas lá no fundo eu sei que estou sozinha, naquela mesma estrada deserta, onde eu costumo encontrar comigo mesma. Hoje eu acordei pra vida, mas foi pra essa vida de hoje. Amanhã.. amanhã quem sabe?

segunda-feira, agosto 13, 2012

A garota destemida

     Não usava uma capa, não saltava telhados nem sequer salvava mocinhos indefesos. A garota destemida andava por ai fazendo escolhas difíceis, sonhando alto, andando de cabeça erguida na rua e tornando-se uma mulher, e Deus sabe, a coragem e a destreza para tal feito.
  Ela permitia-se perder nela mesma por alguns instantes, recuperar a inocência, aprender com os próprios erros e lutar muito para não cometer inúmeros outros. A garota era vilã de si, porque só ela mesma conhecia seus pontos fracos, somente ela sabia onde o calo apertava e apesar do que os outros pensavam, ela não era óbvia.

  Fugia dos clichês e das ditaduras midiáticas para tentar se encontrar, formar sua própria cabeça, combater os próprios medos. Não participava do caos coletivo, porque receava nunca mais conseguir voltar á superfície. Cheias de insignias, conseguia transmitir ao mundo suas idéias pelas palavras. Isso já não era o bastante para considerar a si mesmo uma heroína?

  A garota destemida era uma tragédia ambulante como toda boa história. Era aquele ponto entre a loucura e a sanidade, entre a desistência e a felicidade. Chata, bem humorada, sensível, como qualquer garota, mas era destemida porque o medo não a deixava seguir em frente, continuava mantendo seus olhos para trás, por isso admitir a si mesma que ela podia avançar, era mais que um ato de auto superação, era a sonhada auto aceitação.

  Ela queria estar lá no topo, como costumava dizer aos outros, mas sem capas, sem super poderes, queria estar lá por ela mesma. Tropeçando em cada pedra com os próprios pés e fazer dos ferimentos uma ferramenta contra a desilusão.
  E no fim, ter orgulho de se considerar uma Super heroína, por ter conseguido salvar seus sonhos.